Há já algum tempo que queríamos experimentar a Rede Nacional de Cicloturismo, um guia de percursos cicláveis que reúne ciclovias, ecopistas, caminhos rurais e estradas pouco movimentadas, imaginado e elaborado pelo incansável cicloentusiasta Paulo Guerra dos Santos.
Com todas as restrições à circulação que se encontravam em vigor nesta altura, optámos pela rota número 15 (de acordo com o roadbook de 2017), que liga Alcácer do Sal a Moura, perto da albufeira do Alqueva, por ser relativamente perto de casa e atravessar uma região conhecida pelos seus invernos clementes.
Os três dias de viagem levaram-nos através do Alentejo Central, numa paisagem alentejana invernal, húmida e verdejante, algo desconhecida dos nossos olhos que tanto se habituaram aos laivos desérticos típicos de uma costa vicentina veranil.
Uma rota feita de retas e mais retas, interrompidas por pequenas aldeias caiadas, onde poucas são as pessoas ou veículos que cruzamos, num contraste muito agradável com a área metropolitana de Lisboa, ou seja, a zona mais populosa do país, onde moramos. As paragens fazem-se escassas, para abastecer ou proteger-se das chuveiradas, sucedendo-se os quilómetros de modo quase meditativo de tão silenciosos.
Observamos as aves selvagens, os campos pouco cultivados ou a escassa pecuária que se vai sucedendo ao longo do nosso caminho, numa região que tende, infelizmente, para um abandono progressivo da população, que a sua beleza em nada pode mudar e que o turismo não resolve.
Chegámos ao Alqueva no lusco-fusco, a hora onde as sombras começam a tornar-se imponentes, perante esta imensidão de céu e de plano de água que estende até onde os nossos olhos alcançam. Descemos até à barragem e impressionamo-nos com o impacto desta infraestrutura na paisagem, numa altura em que a albufeira se encontra perto da sua capacidade máxima, ou não estaríamos nós a desfrutar plenamente de um inverno chuvoso, como deve ser.
Voltamos a subir, até à aldeia de Alqueva, onde a pousada da juventude abre as suas portas apenas para nós os dois, que de jovens já temos pouco, talvez o espirito de aventura e descoberta, esse ainda não desapareceu. Escola primária reconvertida em hostel, as salas de aula foram transformadas em quartos e as arcadas do recreio são agora a receção, temos ar condicionado para secar as nossas coisas, televisão e mesmo uma cozinha onde podemos aquecer a comida, resumindo, para nós é um luxo.
Acabamos esta curta viagem com o caminho de regresso, o inverso, no dia seguinte, mas não sem antes desfrutar de um copo de medronho na bomba de gasolina, ou não fosse esse o único café aberto nas redondezas.