2020 trocou-nos as voltas.
Estas, tornaram-se mais pequenas e menos exóticas do que tínhamos inicialmente previsto, mas sem mais opções fomos então espremer o “vá para fora cá dentro” para ver que sumo dava.
Após um regresso a Portugal algo atribulado, em que atravessámos meia Europa em plena primeira vaga da pandemia, esperava-nos o primeiro (e maior) desafio do ano: Portugal Divide – uma travessia de bikepacking onde tens de ligar os pontos extremos (N, S, E, e O), assim como o ponto mais alto e o centro geodésico de Portugal Continental, por uma rota à tua escolha, em menos de 24 dias. Podes ver o detalhe do percurso no final deste artigo.



Viajámos de comboio e expresso até ao Minho para começar em Melgaço, a cerca de 10k de Cevide, o ponto mais a Norte, onde se encontrava o primeiro checkpoint. A partir daí foi sempre a subir, por declives algo impraticáveis e debaixo de um Sol abrasador, tendo passado Castro Laboreiro, na Serra da Peneda e preparando-se para atacar o Gerês, no dia seguinte.
Já no Gerês, percorrer a Mata da Albergaria foi uma experiência ímpar, para começar, os carros pagam portagem, ou seja prioridade aos peões e às bicicletas (devia ser sempre assim)! Fomos pedalando à sombra da frescura e hidratando-nos nas múltiplas fontes existentes, enquanto seguíamos por esta magnífica estrada serpenteante coberta de floresta, que ainda nos presenteou com a visita de cavalos selvagens que por aqui vivem. Isto tudo depois de um mergulho na piscina natural da Portela do Homem, onde recarregámos energias e desfrutámos desta paisagem idílica.



Depois desta “pausa deslumbramento” no Gerês, voltámos ao desafio com a garra toda, em direção ao Miradouro da Penha das Torres, o ponto mais a Este, mas não sem antes passar por Carção, um checkpoint opcional, na casa de um dos criadores deste desafio. Parece pertinho, só que não, a região Norte é marcada por montes e vales, que percorremos por estradas quase desertas atravessando paisagens de cortar a respiração. Uma delas foi a barragem de altitude do Rio Rabagão, onde acampámos entre dois casais de reformados franceses nas suas autocaravanas, que se desencantaram com a França, só para se encantarem com esta calma suprema das Terras de Trás-os-Montes.


Subidas num silêncio abrasador, seguidas de longas descidas onde o ar quente não refresca, perdendo-se a conta aos litros de água consumidos. Mesmo de passagem há tanta coisa para ver, a mudança das paisagens rochosas para a Terra Quente do Alto Douro, feita de encostas ondulantes repletas de vinhas geometricamente alinhadas – gosto disto – do ar de Toscana de Macedo de Cavaleiros e do contraste entre azuis e verdes da zona do Rio Sabor até ao Douro de Foz-Côa.


O checkpoint seguinte foi a Serra da Estrela, o ponto de maior altitude, mais especificamente a Torre (1998m), onde chegámos já no início da tarde, pernas meias dormentes, depois de uma subida lenta onde sentimos cada grama do peso dos alforges. Mas quem sobe, também desce, saboreando cada curva com especial prazer, até assentarmos arraiais por uma noite, perto da Covilhã.





Após 10 dias a pedalar debaixo de um calor abrasador, a moral começa a pregar partidas e o físico já não responde com a mesma frescura, mas para alegrar acabámos por encontrar em Janeiro de Baixo um casal de cicloturistas super simpáticos que nos receberam com uma limonada fresquinha acabada de espremer, chamam-se Eliane e Dinis e o seu canal de youtube está recheado de aventuras inspiradoras!
Continuámos até à Sertã, onde surge a primeira baixa na equipa, os joelhos deram de si e sem uns dias de repouso não dava para a Lia continuar. No entanto, o Angel continua este desafio até ao fim, carimbando os restantes 3 checkpoints em apenas 5 dias – Melriça, o centro geodésico; Cabo da Roca, o ponto mas a Oeste e a Ilha de Faro, ponto mais a Sul de Portugal Continental.
Haveria muito mais a contar, mas aqui fica a nossa experiência para quem quiser se inspirar para este desafio, ou outros! Boas aventuras.

