Aterrámos por volta da hora de almoço em Catania, na Sicília.
Bicicletas montadas, arrancámos direito ao centro da cidade, mas não antes de darmos de caras com a “verdadeira Itália”. E uma das suas especificidades é o trânsito, que se passa da seguinte maneira : duas viaturas (lado a lado) por faixa de rodagem, onde tanto a sinalização horizontal quanto vertical parece não surtir efeito, numa fluidez impressionante, onde todos apitam e ninguém pára, nem nos semáforos, nem nas passadeiras.
Depois do choque inicial, e sem outra opção, lançámo-nos nesta massa de carros, scooters e antigas piaggios, ao que nos apercebemos que isto afinal até funciona. Digamos que assim que perdes o medo de te lançar para o meio do trânsito os condutores desviam-se, abrandam e até param para dar passagem às bicicletas, tantas buzinadelas afinal não passam de chamadas de atenção ou de simples “ciau”, uma forma de comunicação menos utilizada por terras lusas.
Primeira etapa : A Sicília

Depois da primeira noite em Catania com vista para o Etna e onde aproveitámos para nos deliciar com as pastas tradicionais sicilianas, partimos pela alvorada em direcção a Messina. Uma etapa pontuada pelas águas turquesa e cristalinas desta região e pelo forte aroma que emana dos vastos laranjais.
Fora da época balnear (estamos a meio de Março) tornam-se mais óbvias as disparidades económicas entre o Norte e o Sul de Itália, aqui abundam os edifícios inacabados, os comércios abandonados e em ruína, assim como uma clara desorganização urbana, resultante das inúmeras construções informais e a consequente falta de investimento nas infraestruturas. O turismo não pode sustentar exclusivamente toda uma região…
Chegados a Messina e depois de mais uma pasta extraordinária (desta vez os gnocchis derretem-se na boca e a mozzarella frita fez-nos verter uma lágrima de alegria) apanhámos o ferry para terra firma, neste caso, para a ponta da bota.





Segunda etapa : O Sudoeste
Subida, subida e mais subida, atravessando falésias que desafiam a gravidade e mergulham no mar, de um azul profundo. Uma paisagem de cortar a respiração que quase nos faz esquecer o esforço físico que esta rota exige. As paragens para o expresso lungo sucedem-se, em vilas e aldeias escondidas no vale entre cada braço de mar.
O percurso anuncia-se assim mais duro e mais longo do que previsto, pelo que em Palmi decidimos apanhar o comboio que perfura a falésia para poupar alguns dias de estrada, saímos em Lamezia, que dá lugar a uma paisagem mais plana, de uma zona balnear que se estende a perder de vista. É o sítio das rectas intermináveis à beira mar, encaixadas entre praias desertas e hotéis vazios que servem cafés aos raros turistas, enquanto festejam um casamento no seu salão de festas.









Terceira etapa : A Amalfi Coast e Nápoles

A Amalfi estava na nossa wishlist há uns tempos. A beleza extraordinária desta península não é um mito, pois esta é uma terra de estradas idílicas, que nem no dia mais cinzento deixam de nos deslumbrar, com o seu cenário de romantismo cinematográfico.
Partindo de Salerno, curva e contracurva sucedem-se por entre falésias escarpadas com os seus túneis e galerias escavadas na rocha.Partindo de Salerno, curva e contracurva sucedem-se por entre falésias escarpadas com os seus túneis e galerias escavadas na rocha. As vilas de Amalfi e de Positano marcam a sua costa Sul pela maneira como se desenvolvem em uníssono com a encosta, parece que sempre estiveram aqui. O trânsito era pouco ou inexistente, mas em época alta os automóveis e autocarros de turismo enchem esta estrada exígua e serpenteante, tornando-a quase impraticável.
Os limoeiros em terraço parecem existir um pouco por toda a península, mas foi em Sorrento, já na costa Norte, que encontrámos os maiores limões que algum dia tínhamos visto, do tamanho de meloas, utilizados, entre outros, para fazer o tradicional licor limoncello.




De Sorrento rumámos em direcção a Pompeii, onde, debaixo de chuva, aproveitámos para visitar as ruinas desta antiga cidade e perceber o quão desenvolvida a sociedade já era nesta altura, pois tinham lojas, restaurantes, bordeis, estradas, passeios e até passadeiras! Acabámos este dia em Nápoles, onde mais uma vez, nos deliciámos com a gastronomia italiana, desta vez foi à pizza frita que nos rendemos, trata-se de uma pizza estilo calzone, recheada com tomate e ricotta fresca que é depois frita.

Quarta e última etapa : Uma Páscoa em Roma
Graças a uma constipação que teimava em não dar tréguas optámos por ir para Roma mais cedo, de comboio, para ter alguns dias de repouso. O projecto inicial, algo ambicioso para 12 dias de férias, era de pedalar até Roma, onde ficaríamos um dia para apanhar o avião de volta, mas desta forma acabámos por ficar 4 dias, em plena Páscoa, o que não foi a melhor decisão do Mundo…
Afinal, os turistas que deviam estar na costa amalfitana estavam todos em Roma, à espera de ver o Papa. E como bons portugueses não podíamos deixar de ir ao Vaticano ver o senhor Francisco, muito pequenino, lá ao fundo na sua varanda, porque segundo o ditado popular ir a Roma e não ver o Papa é que não!
Após dois dias de sopas e descanso pudemos voltar a pegar nas bicicletas para explorar as imediações. O Angel acabou por participar no reconhecimento de um grandfondo e eu foi explorar a Via Appia Antica e o bairro do EUR. Digamos que, entre um grandfondo com mais buracos que estrada pavimentada e uma antiga via em calçada romana nada amiga dos meus pneus sleek, apenas o bairro da antiga Exposição Universal de Roma (que nunca se chegou a realizar) foi mais praticável e uma boa surpresa. Recomenda-se a todos aqueles que queiram ver um outro lado de Roma, diferente das ruinas que marcam o seu centro, pois a arquitectura monumental deste bairro é o espelho de um regime que se queria ostentar e elevar aos olhos do Mundo. Actualmente é uma zona com inúmeros museus, infraestruturas e empresas, uma espécie de centro económico/financeiro da cidade.
Não é, de longe, a nossa cidade de eleição, sobretudo se quisermos pedalar, mas valeu a pena pelas surpresas. Acabámos por escolher evitar o centro devido às suas ruas sobrelotadas e acabámos por conhecer uma outra faceta de Roma, mais virada para o futuro e menos para o passado.




